Filipe Manuel Neto 2020, May 24

**Aborrecido e incapaz de prender a minha atenção.** Se o primeiro filme foi uma surpresa relativamente agradável e entretém positivamente o público, este filme é uma decepção completa. Aborrecido do início ao fim, não nos traz qualquer mistério intrigante e limita-se a transformar o famoso detective inglês numa figura de acção relativamente excêntrica. Se um dos maiores problemas do primeiro filme, para mim, foi a anacronia das personagens e da sua forma de agir e de pensar (demasiado século XXI para a época vitoriana), o problema deste filme é outro, muito embora o peso da anacronia também se faça sentir do início ao fim. Para mim, o maior problema deste filme é um roteiro pobre e mal escrito, sem que exista um mistério intrigante para resolver no qual possamos acompanhar os protagonistas. De facto, o filme explica tudo logo de início, e tudo o que vem depois é uma espécie de busca de provas, onde Holmes tenta tudo para provar a culpabilidade de Moriarty nos atentados bombistas e a sua intenção clara de provocar uma guerra. Para mim, isso não chega. O elenco cumpre bem com o seu trabalho. Novamente, Robert Downey Jr. é o protagonista e faz bem o seu trabalho apesar do grau de excentricidade e inverosimilhança da personagem dele. Aqui, se falhas existiram, deveram-se ao material que ele recebeu e não ao trabalho do actor. Pela positiva destaco Jude Law, muito bom numa personagem mais discreta e com um sotaque mais britânico; Noomi Rapace foi uma boa adição e parece cigana o suficiente para parecer credível; Jared Harris é um excelente Moriarty, tão frio, culto e brilhantemente genial quanto o exigido pela personagem. Stephen Fry e Kelly Reilly deixam boas performances mas as suas personagens, apesar do apoio importante, parecem muito limitadas e aparecem só em momentos pontuais. Além disso, ambos padeceram de problemas: Reilly parecia mal naquele figurino e Fry era pomposo ao ponto de ser irritante. Pela negativa, eu destaco o cameo muito dispensável de Rachel McAdams, a pouca relevância de Paul Anderson e a total marginalização de Eddie Marsan, que é rebaixado ao papel de um figurante. Tecnicamente, o filme é excelente e tem elevadíssimos valores de produção e muito dinheiro claramente investido. A cinematografia é bastante agradável, embora haja alguns momentos em que o uso da câmara lenta era dispensável. Boas cores, um bom trabalho de filmagem e um visual agradável, juntamente com cenários e figurinos geralmente de acordo com a época e o ambiente, merecem uma nota de atenção bastante positiva e contribuem para tornar este filme palatável e visualmente elegante. Há muito de imaginativo em tudo, e a credibilidade é um problema que podia fazer-se sentir. O ritmo é bom, melhor até do que no primeiro filme, mas a banda sonora, apesar de ser boa o bastante, não é assim tão boa nem traz novidades, parecendo ter sido inteiramente reciclada do primeiro filme. Pessoalmente, esperava mais. Apesar de ser um filme pouco credível, com personagens muito anacrónicas na sua maneira de ser e outros pequenos problemas, o que verdadeiramente me desagradou foi a falta de um bom enredo que me prendesse a atenção.